5 hábitos dos parceiros com impacto
9 janeiro 2020
Rosa Matos, founding partner da Stone Soup
Na Stone Soup, temos a sorte de ser chamados de parceiros por várias organizações.
São comuns as notas de atualização aos parceiros enviadas por esta ou aquela organização, os convites aos parceiros para estar presentes em momentos altos da vida organizacional, ou mesmo propostas de colaboração, mais ou menos específicas ou abrangentes, para unir esforços em nome dessa parceria.
Ser chamados assim de parceiros, dá-nos que pensar. Ocorrem-nos várias questões e até preocupações sobre as expectativas criadas, mas também nos estimula porque percebemos que é o reflexo de um longo caminho de relações tecidas com respeito e sincero espírito de colaboração pelo bem comum. É certo que, em muitos casos, não foi propriamente acordada uma parceria de maneira formal ou explícita. O que será mais provável é que estamos na lista de parceiros de algumas organizações porque valorizam o nosso trabalho e nos vêm como um ator social comprometido e ativamente inserido no seu ecossistema e no tecido social local.
Este é também o espírito e proposta de trabalho que levamos para as parcerias que acordamos formalmente com outras organizações e que integramos regularmente nas nossas formações sobre parcerias com impacto.
Parcerias com Impacto
Trabalhar em parceria muda tudo na colaboração que se desenvolve com outra organização: há uma leitura partilhada dos desafios em jogo e um desejo comum de mudança, estabelece-se um compromisso mútuo com a procura de novas soluções, é traçado um plano para trabalhar juntos e há uma responsabilidade partilhada pelo sucesso dessa colaboração e pela geração de valor social e benefícios para os parceiros.
Estas parcerias, com vocação de impacto, podem definir-se como um grupo de atores comprometidos com um propósito comum para ajudar a resolver um problema social gerando benefício mútuo e impacto para a sociedade.
5 Hábitos dos Parceiros com Impacto
Com este foco na geração de impacto, depois de mais de uma década de trabalho em parcerias e de aprender com êxitos e fracassos, a nossa experiência mostra-nos que os parceiros comprometidos com o impacto têm 5 hábitos que, no seu conjunto, são determinantes para um alinhamento sustentado entre parceiros e para alcançar os resultados esperados:
1- Sintonização e foco
Mesmo depois de cuidadosamente identificado o propósito comum e acordado um plano de trabalho conjunto, um parceiro atento percebe rapidamente que afinal nem todos os envolvidos partilham uma mesma compreensão sobre a meta da parceria e o processo de mudança necessário. A intensidade do trabalho de implementação das atividades pode deixar estas diferenças passarem desapercebidas durante algum tempo, mas este parceiro perceberá também que as divergências se vão acumulando e que é preciso propor uma pausa – para conversar abertamente, esclarecer interesses individuais, reafirmar propósitos e, finalmente, atualizar planos.
Não será preciso estarmos todos de acordo em todas as dimensões da problemática que abordamos, e sabemos que as diferenças voltarão a surgir. No entanto, todos precisamos de estar de acordo com o propósito comum da parceria – aquele resultado maior que a soma das nossas partes pelo qual estamos dispostos a ajustar as nossas agendas individuais para trabalhar juntos.
Um parceiro focado no impacto é um parceiro habituado a sintonizar continuamente.
2 – Comunicação contínua
Um parceiro com este hábito empenha-se em melhorar a qualidade da comunicação e da relação de proximidade críticas para o sucesso da parceria.
A construção de confiança é particularmente difícil. Qualquer parceiro precisa de tempo para desenvolver experiência suficiente de trabalho com os demais até poder compreender e apreciar a motivação que está por trás dos esforços de cada um, para garantir que os seus interesses individuais são tratados com justiça e que as decisões coletivas são tomadas de forma objetiva e com base na melhor solução disponível para cada problema. O próprio processo de criação de um vocabulário comum leva tempo, o que é essencial, nomeadamente, para desenvolver um sistema partilhado de monitorização e avaliação que apoie a gestão do impacto desejado.
Um parceiro comprometido com o impacto sabe que a comunicação é critica para manter a coesão da parceria. São precisas reuniões regulares, idealmente presenciais, cuidadosamente estruturadas e conduzidas, mas também é preciso que a interação aconteça entre reuniões, recorrendo a canais mais ou menos formais, mais simples ou mais sofisticados tecnologicamente.
O importante é criar uma comunicação contínua entre todos os parceiros, mantendo o interesse de todos e um fluxo regular de informação, criando espaço para a discussão sobre progressos e retrocessos e para realinhar esforços, mas sobretudo para aprender juntos, refinar a visão coletiva e estar preparados para reagir de forma consistente a novas oportunidades e dificuldades, e mesmo conflitos, que podem colocar a parceria à prova.
Um parceiro focado no impacto sabe que é crítico criar uma atmosfera favorável, onde há respeito, tecem-se relações genuínas de apoio mútuo a longo prazo, onde se favorece a criatividade e onde o trabalho flui sem grandes tensões.
Um parceiro com este hábito, comunica continuamente, com frontalidade e coragem, mas sempre com o cuidado da compreensão mútua, da honestidade e da responsabilidade.
3- Adaptação e ajustamento
Um parceiro habituado a questionar-se sobre o impacto do seu trabalho, também sabe bem que os resultados de uma parceria poderão apenas surgir com o tempo. Sabe que a parceria é um processo longo de articulação repleto de novidades e imprevistos, que obrigarão a uma adaptação e reajustamento regulares. É por isso que terá de dedicar uma atenção permanente ao processo para lá chegar.
É certo que os progressos dependem do trabalho conjunto de um número alargado de pessoas e que tanto podemos avançar como previsto, como de repente ficar bloqueados. Também não será preciso que todos façam o mesmo, mas que cada parceiro realize as atividades em que é competente, articulando e apoiando as ações dos outros parceiros. O poder das parcerias vem desta coordenação mutuamente reforçadora de atividades diferenciadas que encaixam num plano mais amplo.
Para tal, um parceiro focado no impacto terá de desenvolver o hábito da adaptação e ajustamento permanentes – tanto de atividades, como de abordagens, mas também estar atento a cada etapa do caminho e estar disposto a mudar de rota se necessário.
4 – Aprendizagem colectiva
O trabalho em parceria está repleto de êxitos, mas também de alguns fracassos.
Não basta termos acordado um propósito comum, implementar um plano de trabalho minucioso e fazer uma boa monitorização dos resultados alcançados se não estivermos atentos aos progressos, mas também aos problemas emergentes. Precisamos de ser capazes de aprender juntos com esses êxitos e fracassos, tanto para melhorar individualmente, como para melhorar o trabalho conjunto.
E porque uma coisa é extrair lições de uma experiência, mas outra é passar à ação, um parceiro focado no impacto precisa de aperfeiçoar o hábito de resolver os problemas juntamente com os seus parceiros, alinhar esforços e passar à ação. Para isso, será útil acordar um mecanismo de interação – quer sejam reuniões ou plataformas web de gestão de informação e tomada de decisão, que favoreça uma atualização mútua e feedback contínuo e atempado.
Só ganhando o hábito de analisar e aprender à medida que os desafios emergem é que poderemos adotar mais rapidamente novas soluções e recursos críticos em cada momento.
Este hábito é crítico para o impacto por uma razão importante: muitas vezes, as soluções não são conhecidas à partida, mas emergem ao longo do próprio processo de mudança graças a essa capacidade de análise, de aprendizagem e ação coletiva paciente e cuidadosa de parceiros realmente comprometidos com o impacto.
5 – Curiosidade e abertura de mente
As questões que abordamos são por natureza complexas e uma parceria também pode ser um empreendimento complexo e incerto.
Um parceiro motivado pela geração de impacto para a sociedade sabe que vivemos num mundo interconectado e interdependente e que não somos capazes de capturar a imensa teia de relações de causa e efeito que se estabelecem entre o que fazemos e o que é feito por outros. Podemos estarmos convictos de que tudo fazemos pelo bem-comum e de que o fazemos bem, mas não podemos controlar o efeito combinado a médio ou longo prazo das nossas ações e dos outros.
Um ator social pode estar munido das melhores intenções, e até ter os planos mais brilhantes e recursos em abundância, mas dificilmente poderá compreender, e menos controlar, a realidade em toda a sua complexidade.
Um parceiro habituado a abraçar a complexidade natural de uma estratégia de transformação social não poupará esforços para manter-se orientado para o compromisso comum da parceria. Precisará para isso de reforçar permanentemente a intenção dos seus esforços. Precisará de manter-se empenhado e determinado em contribuir para a concretização do propósito da parceria, com coragem e determinação, mesmo correndo o risco de a parceria vir a ter os seus fracassos.
Mas o que poderá ser mais determinante para um parceiro orientado pelo impacto é a capacidade de manter a curiosidade e abertura de mente ao longo de todo o caminho.
Este hábito implica estar vigilante, inquieto, questionar as nossas próprias convicções e manter abertura de mente, tanto face à perspetiva dos outros parceiros como à nova realidade que vai emergindo ao longo da parceria.
Criar bons hábitos custa e leva tempo e o papel de parceiro está repleto de desafios. A nossa experiência como parceiros mostra-nos que vale a pena o esforço e que podemos gerar mais e melhores benefícios para todos se nos empenharmos em melhorar como atores sociais.
Se quisermos gerar mais valor como parceiros, precisamos de sintonizar melhor, estar mais interligados, estar sempre dispostos a aprender juntos, estar prontos a adaptar e ajustar o nosso contributo e sempre curiosos e de mente aberta face a uma realidade cada vez mais complexa e desafiante.