Diversidade como palavra proibida

Numa altura em que os extremistas de todo o mundo se mobilizam contra a diversidade e a classificam como palavra proibida, é importante analisar por que razão esta lhes causa tanto medo. Tanto que preferem eliminá-la. 
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por Cláudia Pedra,
Managing Partner, Stone Soup Consulting

Recentemente, assisti ao relato de uma professora americana, que estava chocada. Compareceu numa formação obrigatória e viu a sua pasta ser destruída. Parece que continha uma palavra perigosa. Até sediciosa. Tanto que teve de ser eliminada.

Qual a palavra? Adivinharam – diversidade.

 Photo:  Iam Alex Francis (Pexels)

 

Esta história mostra até que ponto o extremismo vai para perseguir a diversidade, a equidade e a inclusão (DEI).

Não parece haver outra razão que não seja o facto de a DEI estar profundamente enraizada num normativo de direitos humanos e, por conseguinte, ser demasiado perigosa para lidarem com ela. As questões relacionadas com a DEI decorrem do conceito de que os direitos humanos são universais e indivisíveis e que todas as pessoas na Terra deveriam poder usufruir plenamente deles. No entanto, os extremistas gostam de propor exatamente o contrário.

Quando dizem que as minorias estão a dominar o espaço da maioria e se referem às pessoas como fazendo parte de grupos, conseguem fazer algo que funciona de forma eficaz – dessensibilizar as pessoas até se esquecerem de que falam de pessoas que nasceram, têm vidas, pensamentos, necessidades e esperanças, assim como uma família e amigos.

Dessensibilizam-nas até não conseguirem sentir a mais básica empatia humana e estarem prontas a votar em planos de ação egoístas que só a eles lhes interessam e que discriminam todos os outros.

A verdade é que as pessoas não conseguem relacionar-se facilmente com a vida e as caraterísticas das pessoas que são diferentes das suas. Temem o que não compreendem e muitas tendem mesmo a repudiá-lo. De facto, não é fácil compreender o que é ser queer, negro ou mulher quando se é um homem branco heterossexual. Talvez nunca consigamos compreender verdadeiramente a situação de um refugiado, se formos de um país estável, com segurança e liberdades.

Mas a questão nunca é se nos podemos relacionar, compreender ou colocarmo-nos totalmente na pele dessas pessoas. O que todos devemos ter em mente é que se tratam de seres humanos com direitos inalienáveis, que são universais, independentemente do local onde nasceram, do seu género, orientação sexual ou cor da pele.

A empatia humana genuína – o ato de compreender que nunca estaremos na mesma situação que outra pessoa, mas que, ainda assim, nos preocupamos com ela – deixa de existir. A desinformação é utilizada como uma ferramenta para tornar os seres humanos invisíveis. Para os tornar desumanos. Quando se espalham histórias nocivas e maliciosas sobre homens trans que atacam mulheres nas casas de banho, sobre a maioria dos migrantes serem criminosos perigosos ou sobre a existência de pessoas que tentam fazer uma lavagem cerebral às nossas crianças nas escolas, as pessoas começam a acreditar que é verdade. E aqui é importante distinguir entre partilha de informação errónea e desinformação. A primeira consiste em pessoas que partilham não factos porque acreditam que são verdadeiros, e a segunda é uma ação deliberada para manipular e mobilizar as pessoas a favor da sua ideologia – neste caso, contra os direitos humanos consagrados.

Nos anos 60, Hannah Arendt falava da banalidade do mal. À medida que o populismo cresce e os partidos de extrema-direita chegam aos parlamentos nacionais, o mal parece estar a rodear-nos um pouco por todo o mundo. E está a ser banalizado.

As organizações da sociedade civil estão a sentir o revés, vendo aprovadas leis inconstitucionais e decretos que contrariam as normas dos direitos humanos, com o seu trabalho a ser gradualmente marginalizado e dificultado. Por outro lado, os seus beneficiários estão a aumentar dramaticamente, com necessidades urgentes a nível diário e sem recursos ou pessoas suficientes para ajudar. E com constantes barreiras à ação, especialmente ao nível do Estado ou dos governos locais/regionais de regimes populistas.

Enquanto indivíduos, devemos lutar contra esta situação, tentando encontrar factos e fontes de informação científicas/ rigorosas. Como coletivo, devemos lutar contra a desinformação – desde a política até às bases. Precisamos de nos mobilizar, para garantir que não permitimos que os cenários distópicos dos romances se materializem diante dos nossos olhos. Temos de mudar as narrativas com um apelo coletivo à ação. Se ficarmos em silêncio e não fizermos nada só porque não somos migrantes ou negros, podemos ver-nos de volta a uma situação que líamos nos livros de história. Não restará ninguém para falar por nós ou para nos ajudar. E depois?

“Primeiro, vieram atrás dos socialistas, e eu não me manifestei – porque não era socialista. 

 Depois, vieram atrás dos sindicalistas, e eu não falei – porque não era sindicalista. 

Depois vieram buscar os judeus, e eu não falei – porque não era judeu. 

Depois vieram atrás de mim – e não restou ninguém para falar por mim.

-Martin Niemöller 

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Se é uma organização que precisa de apoio para se desenvolver e prosperar neste ambiente hostil, fale connosco. Na Stone Soup, a nossa missão é ajudar organizações a navegar em contextos difíceis e a concretizar a sua visão. Iremos desenhar e co-criar consigo estratégias que o(a) ajudarão a ultrapassar estes tempos sombrios — sempre com uma abordagem baseada nos direitos humanos.

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