O direito humano à inclusão
14 Fevereiro 2023
Cláudia Pedra
Stone Soup Managing Partner
Publicado originalmente:
“Desenvolvimento Humano, Fator Chave para o Sucesso de Portugal – o Contributo das Empresas Francesas”
A Diversidade & Inclusão (D&I) nem sempre é encarada com a seriedade que tem de ter. É um direito ter uma inclusão plena dentro de uma empresa, não algo supercial que seria bom fazer numa sessão algures numa tarde de verão.
Tudo depende de como queremos gerir a nossa empresa. É importante para nós ter respeito pelos direitos humanos, uma base ética sólida, uma prática baseada em valores? Se sim, não é displicente ter uma política, estratégica e boas práticas de diversidade e inclusão. Mas muitas vezes esta questão não é apresentada enquanto prática de direitos humanos e, por isso, acaba por ser desvalorizada em contexto empresarial.
Em contexto de trabalho, as pessoas valorizam muitas coisas diferentes. É verdade que um salário digno está no topo, mas estão muitos outros fatores, como a capacidade de crescimento pessoal e professional, a autonomia, a criatividade, a possibilidade de ser inspirado, de ter uma direção, de desenvolver competências específicas, mas também de sentir prazer em trabalhar, ter um propósito e um verdadeiro sentido de pertença (esta é a base do conceito de salário emocional ). Sem inclusão, isto não é possível. Para que as participações de alguém sejam verdadeiramente valorizadas em contexto empresarial, é preciso que essa pessoa seja vista como uma mais-valia. É necessário que se invista na sua inclusão, para que tenha uma experiência plena de direitos e, assim, possa contribuir da melhor maneira para a empresa e para a comunidade que integra.
A diversidade implica complexidade, pois integra dezenas de características que atribuem fatores únicos e diferenciadores a uma pessoa. E não é isenta de desafios, mas as vantagens são inúmeras. Os vários estudos desenvolvidos (demasiados para enumerar) mostram vantagens em tantos fatores, e cada um daria um artigo por si. Sabemos que gera maior criatividade e inovação, maior rapidez na resolução de problemas e, consequentemente, melhores processos de decisão, além de permitir maior diversificação de competências, promovendo maior entrega e motivação por parte dos colaboradores, inclusive atraindo e retendo melhor talento. Mas não surpreendentemente, ajuda também as empresas a ter maior produtividade, maiores lucros, a expandir e escalar e a ter melhor reputação e credibilidade. Talvez porque ajuda a aproximar aos clientes, também eles diversos e que gostam de se sentir compreendidos.
Segundo o estudo “Workmonitor” da Randstad de 2022 , a diversidade, a inclusão e os modelos de gestão preocupam cada vez mais os líderes, pois condicionará o seu futuro. Segundo esse estudo, 51% dos inquiridos não aceitariam um emprego se a empresa para a qual se candidatam não tivesse em prática uma estratégia de promoção da diversidade e da inclusão. Metade dos Millennials (48%) e da Geração Z (49%) afirma que não aceitaria um emprego que não estivesse alinhado com os seus valores sociais e ambientais. Ou seja, más práticas de D&I podem pôr em causa a qualidade dos serviços e produtos, uma vez que os melhores talentos podem nem considerar colaborar com determinada empresa. As más práticas de D&I geram também situações de discriminação e situações recorrentes de micro-agressões, que podem criar um ambiente tóxico. Não existe ninguém isento de preconceitos e estereótipos e estes materializam-se diariamente em vários vieses que nos influenciam em termos de atitudes, comportamentos e processos. Os vieses da afinidade e da confirmação levam-nos a escolher pessoas parecidas connosco, em quem nos reconhecemos. Isto apesar de o pensamento crítico, e a diversidade de opiniões ser importantíssimo para o desenvolvimento de uma empresa, pois na riqueza dessa diversidade vivem soluções mais completas, complexas e eficientes. Havendo viés no recrutamento e seleção, as consequências só se agudizarão na altura da integração.
Se falarmos da D&I como uma questão de direitos humanos, talvez se consiga verificar uma mudança de paradigma. O assunto deixará de ser secundário e passará a ser tratado com a prioridade que merece. A inclusão é um direito, disso não há dúvida. Só falta ser tratado como tal.
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